Descubra porque empresas do setor de agroindústria estão investindo em bioenergia na busca por mecanismos de produção mais limpa que garantem lucratividade e benefícios ao meio ambiente.
O Agronegócio e as energias renováveis
O Relatório Energy, Agriculture and Climate Change, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO) aponta que os alimentos produzidos por meio da cadeia agrícola hoje utilizam cerca de 30% da demanda mundial por energia e que até 2050, quando a população mundial chegar a 9,7 bilhões, precisaremos de 60% a mais de alimentos para sustentar a humanidade. Isso significa dizer que a demanda por energia também aumentará.
A solução, segundo a FAO, passa pela otimização do uso da energia e, principalmente, ampliação do acesso às fontes energéticas renováveis na agricultura. Isso inclui a adoção de sistemas agroalimentares para a fabricação de alimentos e bebidas, com uso de bioenergia sustentável. A consequência disso é o aumento da produtividade e uma contribuição para reduzir os problemas climáticos.
As estratégias de combate ao aquecimento global passam pelo fortalecimento de fontes de energias renováveis e soluções inteligentes para redução do consumo de combustíveis fósseis. Nos últimos 10 anos, para termos uma ideia, segundo dados do Balanço Energético Nacional, conduzido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), as emissões brasileiras de gases do efeito estufa aumentaram cerca de 40%.
De acordo com o estudo, o impacto da transformação no clima pode ser drástico para a agricultura, uma vez que o aumento na temperatura gera insegurança hídrica e afeta o desenvolvimento das lavouras. Por isso, suavizar os efeitos negativos do aquecimento global com energias renováveis, como a bioenergia, são boas alternativas para o setor agroindustrial.
Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), ainda que o Brasil tenha uma grande parcela dos resíduos agropecuários sem o devido aproveitamento, o setor sucroalcooleiro nacional avança neste quesito, inclusive com possibilidade de aproveitar o bagaço da cana.
Outra opção eficiente para as empresas que procuram fontes renováveis de energia é o biogás, que assim como o etanol, além de poder ser transformado em eletricidade também tem potencial de ser utilizado como combustível verde, ocupando o lugar do diesel fóssil, que ainda é a fonte energética prioritária no setor.
Empresa de bioenergia no Brasil
Um forte indício do quanto a agroindústria cresce no cenário econômico mundial foi a união da gigante holandesa Bunge e da petroleira britânica BP para a criação de uma empresa de Bioenergia no Brasil.
A parceria foi anunciada com grandes expectativas para o setor, uma vez que o país tem vocação natural para o agronegócio devido às suas características e diversidades no que se refere ao clima, solo, água, relevo e luminosidade.
Segundo as notícias divulgadas no site da Bunge Brasil, o esperado é que a nova empresa, que deve contar com sede em São Paulo, tenha cerca de 10 mil funcionários e comece as operações nos últimos meses de 2019.
Com mais de 8,5 milhões de km de extensão, o Brasil é o maior país da América do Sul e o quinto do mundo, com grande potencial de expansão da capacidade agrícola sem necessidade de agredir o meio ambiente.
A nova empresa que vai trabalhar na produção de etanol e açúcar, além de eletricidade renovável com biomassa de cana de açúcar começa a operar com um total de 11 usinas nas regiões sudeste, norte e centro-oeste do país.
Gregory A. Heckman, CEO global da Bunge, disse “Essa parceria com a BP representa um marco importante no processo de otimização de portfólio da Bunge, o qual nos permitirá reduzir nossa atual exposição ao negócio de açúcar e bioenergia, fortalecer nosso balanço patrimonial e focar em nossas principais atividades”.
Dev Sanyal, chief executive da BP Alternative Energy, acrescentou: “Biocombustíveis desempenham um papel fundamental na transição energética, e o Brasil é líder no desenvolvimento desse setor em escala. Este importante passo permitirá à BP aumentar significativamente a escala, a eficiência e a flexibilidade de nosso negócio em um dos mercados de biocombustíveis que mais crescem no mundo”.
Assumindo um compromisso com segurança e sustentabilidade, a empresa chamada de BP Bunge Bioenergia garantiu que estará posicionada para apoiar a crescente demanda do país por biocombustíveis e bioeletricidade de baixo carbono.
Segundo os líderes, o objetivo é gerar significativas sinergias operacionais e financeiras, inclusive por meio de eficiências de escala e aplicação de melhores práticas, otimização de tecnologias e capacidades operacionais em todos os ativos do negócio.
Sustentabilidade na Agroindústria
O aumento da emissão de gases, originados da queima de combustíveis fósseis, alinhado ao efeito estufa e ao desmatamento interferem diretamente nas graves mudanças climáticas que vem ocorrendo nos últimos anos, segundo a opinião científica.
Alguns estudiosos mais otimistas alertam que a energia renovável deve ser uma das possíveis soluções para o problema. A bioenergia é um tipo de energia renovável que aliada a outras medidas de redução de emissão de gases do efeito estufa pode ser eficiente para controlar a saúde do planeta.
Entretanto, a sustentabilidade na agroindústria deve alterar o cenário do mercado, tornando-o mais competitivo. A adoção de práticas sustentáveis como a bioenergia agregam valor às operações da indústria, desde a etapa de desenvolvimento de produtos, passando pela produção até chegar a destinação de resíduos.
Por isso, incorporar ações sustentáveis às estratégias do setor pode ser uma vantagem competitiva no agronegócio. Afinal, quando a agroindústria faz investimentos para preservação do meio ambiente isso reverte positivamente para todo os demais segmentos.
Políticas públicas para avançar
Para o professor doutor em Irrigação e Meio Ambiente e pesquisador do Instituto Federal do Paraná (IFPR), Frederico Fonseca da Silva, o Brasil ainda é um país que dá pouca atenção às práticas e soluções sustentáveis.
Segundo ele, para que a sustentabilidade traga benefícios não só para as agroindústrias, mas para todos os demais setores são necessárias políticas públicas que contemplem toda a cadeia de produção de energias renováveis, como:
- o uso da terra;
- tecnologias de conversão;
- questões sociais;
- leis ambientais;
- quesitos econômicos e
- práticas de governança.
Nesse sentido, o professor coloca que mesmo o Brasil sendo referência em agronegócio mundial, o seu potencial só será amplamente considerado caso a agricultura e a agroindústria tenham como princípios a conservação e a preservação.
E, provoca dizendo que espera ver o Brasil como referência em agronegócio sustentável e não exploratório: “Eu não acredito em um agronegócio exploratório, que não queira discutir reserva legal, que ainda insiste em queimadas, que não queira discutir a proteção das nascentes, dos mananciais, das margens… quando mudarmos nossa cultura em relação a sustentabilidade, aí sim direi que estamos bem”.
Bioenergia na Agricultura Familiar
Adotar novas práticas e modos de produção na agricultura familiar, que incorporem a noção de eficiência energética, usufruindo das possibilidades de geração de energia a partir de seus resíduos, efluentes e dejetos, ou seja, usar a biomassa residual resultante das próprias atividades. Isso é o que propõe Cícero Bley Jr., coordenador de Energias Renováveis da Itaipu Binacional que sugere aproveitar as vocações rurais tradicionais para gerar energia limpa.
Segundo ele, mobilização semelhante já ocorre nos Estados Unidos, Alemanha e outros países que anunciam seus “Planos Energéticos 20×20”, estimando que em 2020, 20% de toda a energia que geram, sejam originadas no campo.
O professor complementa que já surgem na paisagem desses países os chamados Parques de energia, com energia eólica, solar fotovoltaica ou mesmo com a metanização da biomassa residual e a própria biomassa tradicional, como na Europa, com os caroços de azeitona.
No Brasil, a agroindústria sucroalcooleira já vem trilhando, e bem, de acordo com Cícero, esses caminhos, agregando à produção valores energéticos que antes se constituíam em passivos ambientais, como o bagaço da cana-de-açúcar.
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