Apesar da indústria aderir cada vez mais à tecnologia, setor encontra dificuldades na migração para a nuvem
É bastante comum ouvir de qualquer gestor de TI, em qualquer mercado, que a cloud é o caminho a ser seguido quando se trata de ambiente digital e infraestrutura de sistemas, e isso é igualmente válido para o setor industrial.
Segundo levantamento da McKinsey, 64% das empresas do setor nos EUA já usam normalmente a nuvem em suas operações, com outros 20% já realizando o rollout. Consistente com este quadro, 60-70% dos entrevistados entendem que têm um grau acima da média ou excelente quanto a este tipo de tecnologia.
Contudo, surpreendentemente, 74% dos entrevistados afirmam não terem ainda conseguido obter as vantagens financeiras e operacionais esperadas. Metade do público afirma que a adoção foi mais complexa que o esperado, e 40% que estouraram a verba para o projeto.
O que, então, pode estar acontecendo? Seria a nuvem mais um caso de overpromise em tecnologia?
Felizmente, a resposta é “não”. A cloud traz benefícios já comprovados e conhecidos, com resultados em diversos mercados, de modo que seu crescimento é amplamente justificado.
Por outro lado, a adoção pura e simples da tecnologia não é garantia de sucesso. Como em quase todos os grandes saltos tecnológicos e de inovação, é importante fazer um planejamento adequado, enxergando os gaps e necessidades específicas do negócio, adotando as ferramentas certas para superar seus desafios.
Para isso, este artigo vai trazer um olhar sobre algumas das dificuldades mais comuns, as boas práticas e as dicas que podem facilitar a jornada da indústria para a nuvem, assim como melhorar suas chances de sucesso no uso dessa poderosa tecnologia.
Por que a indústria precisa considerar a migração para a nuvem?
Focada principalmente em produtividade de consistência de processos, a indústria nem sempre figura entre os adotantes iniciais de tecnologias digitais. Mesmo assim, a marcha do progresso tecnológico é inevitável e, a exemplo de praticamente todos os outros setores da economia, a transformação digital também está mudando a cara desse mercado. Aqui, ele inaugurou o que se costuma chamar de indústria 4.0.
A grande mudança da 4ª Revolução Industrial é a forte entrada de coleta e análise de dados com objetivo de dinamizar a produção, agregando mais inteligência para o processo. Indo além da automação mecânica pura, o momento atual das fábricas inteligentes faz uso de técnicas como IIoT, big data e inteligência artificial para enxergar possíveis falhas e gargalos, realizar manutenções preventivas e manter a produção em níveis ótimos.
Nesse contexto, a computação em nuvem acaba sendo particularmente proveitosa e efetiva, na medida em que traz enorme poder computacional, sem exigir grandes investimentos em infraestrutura.
Em um momento em que as empresas do setor enxergam o OPEX como uma boa alternativa ao CAPEX, este tipo de vantagem pode ser importante para manter sua produtividade em alta com controle de custos.
Outro ponto importante da cloud computing é o fato de que os provedores mantêm a atualização de segurança e de funcionalidades em seus ambientes, garantindo sempre um produto de bom desempenho e máxima blindagem.
Diferentemente de modelos locais (ou on-premises) e de data centers com virtualização, em que a manutenção e o update dos equipamentos fica a cargo da empresa, com mais pressão sobre as questões de segurança e performance em cima da equipe, que não necessariamente é especialista neste tema.
Isso não significa, contudo, que não haja espaço para aplicações de computação local para a indústria. A chamada edge computing (ou computação de borda) surge com a premissa de realizar o processamento dos dados perto do local de coleta, visando redução de latência e menor trânsito de dados. A modalidade vem crescendo junto com o aumento do poder de processamento de dispositivos, e se prevê um crescimento substancial para ela com a expansão do 5G.
Para muitos especialistas, o futuro da indústria seguirá no modelo híbrido, com parte do processamento em edge, para tarefas que exigem máxima velocidade na resposta, e parte feita na nuvem, capitalizado em cima do poder computacional e da escalabilidade deste ambiente.
Os desafios da jornada de migração para a nuvem
A adoção de tecnologias cloud vem sendo facilitada pelo crescimento das ofertas e da evolução das aplicações criadas para ela. Da mesma forma, a maior quantidade de players atuando neste ambiente faz com que o setor manufatureiro tenha em mãos os meios necessários para entrar de vez na indústria 4.0.
Contudo, isso não significa que seja uma jornada sem desafios. Como vimos, apesar de estarem com projetos a todo vapor, a indústria ainda pena para ver valor e resultados com a adoção.
Para extrair o máximo de valor sobre este ambiente e aderir à transformação digital, é interessante olhar para três desafios comuns na migração neste segmento:
1. Falta de mão de obra qualificada
Este é um ponto delicado porque o crescimento da tecnologia fez com que, efetivamente, mais gente se qualificasse para atuar com estas ferramentas.
Contudo, o ramo industrial não é a preferência destes profissionais, que olham com mais interesse para empresas digitais, de tecnologia e de serviços, as quais já trazem mais maturidade e bagagem na área, dando mais espaço para o crescimento do profissional.
A terceirização da equipe de TI, por exemplo, pode ser uma maneira de construir rapidamente o time.
2. Segurança e compliance
A cloud é extremamente segura, até chegar no cliente, corresponsáveis pela segurança do que rodam na nuvem. Migrações mal-feitas, aliadas a ferramentas de segurança legadas não desenhadas para cloud, falta de orçamento e de equipe para a segurança da cloud estão entre os problemas de segurança mais comuns.
Não por acaso, em 2020, o ransomware foi um dos grandes problemas para a indústria – assim como para todos os setores.
Ainda neste quesito, com a LGPD em vigor e com apenas 36% das empresas prontas para ela, um ataque que leve a vazamento de dados pode ser devastador em termos financeiros e reputacionais. Assim, é fundamental investir em segurança digital avançada e inteligente, que atue em camadas e vá desde a prevenção até a remediação de incidentes.
3. Falta de maturidade digital
Um problema comum à indústria de forma geral, a falta de maturidade digital faz com que a implementação desta tecnologia seja lenta e ineficiente.
Sistemas legados, pouca visão dos ganhos possíveis, falta de familiaridade com a tecnologia por parte da equipe: tudo isso e mais acabam por prejudicar o processo e privar a empresa dos benefícios da indústria 4.0.
Aqui, deve haver um esforço conjunto para garantir o máximo de adesão e suporte ao ingresso nesta jornada. Primeiro, os times de engenharia e TI devem andar juntos, entendendo os desafios e objetivos da organização, de modo a pensar em soluções que façam sentido.
Segundo, é necessário envolver RH e Marketing, criando campanhas de evolução de cultura digital, conscientizando a todos sobre os benefícios da mudança, as responsabilidades de cada um e como elas podem ser atingidas.
Finalmente, a diretoria deve ser uma patrocinadora, envolvendo-se com base nas evoluções esperadas e conscientizando sobre os esforços que devem ser feitos no caminho.
Supere os desafios: o futuro da indústria é na cloud
Escalabilidade, estabilidade e infraestrutura para inovação: tudo isso e muito mais está na outra ponta da jornada cloud. Se bem conduzida, esta mudança trará grandes benefícios e levará a empresa a um novo patamar de eficiência e modernidade, colocando-a à frente da concorrência.
Para isso, o trabalho será duro. É fundamental envolver a todos, mostrando como seus papéis podem ser realizados de forma efetiva e colaborativa, além de realizar a escolha certa de parceiros e fornecedores que entendam a natureza e os desafios específicos do negócio. Assim, sua indústria estará pronta para tirar o máximo de proveito da transformação digital – e de tudo que ela ainda pode trazer.
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