Last mile é o trecho mais caro da logística. Como tecnologias de transporte podem ajudar?
O objetivo do transporte last mile é simples: mover cargas e encomendas de um centro de distribuição para o consumidor. Mas fazer isso acontecer para um volume cada vez maior de bens, em um tempo e a um custo que precisam ser cada vez menores, pode ser desafiador. Sobretudo se a infraestrutura das cidades e as opções em tecnologia de transporte forem limitadas.
Do ponto de vista do consumidor, velocidade de entrega não é apenas algo bom. Essa é parte integrante de uma boa experiência de atendimento online, pela qual, inclusive, os consumidores esperam não desembolsar um centavo adicional sequer.
De acordo com dados de pesquisa conduzida pela Forrester & IBM, 7 em casa 10 consumidores provavelmente não farão outra compra de uma marca que porporciona uma experiência de entrega ruim.
O transporte de última milha tem muito a ver com a qualidade dessa experiência. Segundo dados da Business Insider, sozinho, o last mile é 53% do custo total de envio e onde os principais problemas de ineficiência ocorrem. Com o aumento das demandas de e-commerce, radicalizadas pela pandemia, esse valor tende a aumentar, assim como os problemas.
Por isso, a necessidade de intervenção, tanto pública quanto privada, é imperativa. Mais do que isso, é uma oportunidade de criar significativa disrupção nos modelos atuais de logística e, em particular, nos modais.
Nesse ponto, sabemos que a tecnologia estará no centro dessa intervenção. Mas de quais tecnologias estamos falando? Neste post, além de desenhar os próximos 10 anos do transporte last mile, identificamos que tecnologias estarão no centro das estratégias logísticas.
O futuro do transporte de última milha: um problema já anunciado
De 2014 a 2019, as vendas por e-commerce triplicaram globalmente. O aumento da demanda por transporte de cargas e encomendas, sobretudo de última milha, por consequência do crescimento consistente do e-commerce ao longo dos últimos anos, já estava modificando radicalmente o que entendemos por transporte. Pensemos no que fazem Uber Eats, iFood, Amazon e Rapi, para citar apenas os mais conhecidos. A expectativa de aumento dessa demanda, a partir de 2020, é de 78% até 2030.
Por isso, os impactos no ecossistema de logística e transporte já eram uma realidade conhecida antes da pandemia estourar.
No levantamento The Future of the Last-Mile Ecossystem, de janeiro de 2020, o Fórum Econômico Mundial estima que a demanda por delivery em e-commerces resultará em 36% mais veículos transitando nas cidades até 2030.
Isso significa, em termos de congestionamento, um crescimento de 21%. Já em emissões, um aumento de 32%, nas 100 maiores cidades do mundo – que, aliás, já costumam ter altos índices de congestionamento e de emissões de carbono.
Em um cenário sem intervenções, de acordo com o estudo, isso significa a possibilidade de uma série de disrupções no tráfego das cidades. Não precisamos sequer mencionar o impacto disso em custos de transporte para as empresas.
Portanto, já se sabia que intervenções seriam necessárias. Com a pandemia, o quadro se radicalizou. Vejamos.
Covid-19 e mundo contactless: catalizadores de tecnologias de transporte last mile
Se, antes da pandemia, entregas comerciais já haviam crescido radicalmente, a pademia trouxe um elemento a mais.
O contactless, ou seja, sem contato, nunca fez tanto sentido, para os negócios e para os consumidores. Hospitais, e-commerces e restaurantes, todos precisam de novas opções para servir seus clientes, cuidar de pacientes e manter colaboradores seguros a distância.
O e-commerce deu um salto ainda maior. Categorias cujo crescimento no varejo online era historicamente mais lento - como alimentos perecíveis, produtos para pets e produtos para higiene - tiveram um súbito momento de crescimento de vendas online. E pelo comportamento do consumidor no novo normal, tendem a ficar.
Leia também: Logística pós-pandemia: tendências em gestão da cadeia de suprimentos.
No que respeita à entrega desses itens, há novas demandas. A necessidade da rapidez do delivery instantâneo ou no mesmo dia, requerida sobretudo pelos perecíveis, teve aumento considerável em relação aos outros.
Tecnologias de transporte: 4 tendências em modais para last mile
Se unirmos os dois cenários desenhados nas seções acima, compreendemos que não podemos nos dar ao luxo de não fazer nada. A vantagem é que nossa maior limitação é o espaço, não as possibilidades.
A tecnologia está por trás de várias deles, e tem criado opções que ajudarão a remodelar a logística last mile, como as tecnologias para roteirização. Mas no que diz respeito aos modais?
Para além dos caminhões, carros e bicicletas dirigidos por motoristas independentes, tal como viabilizados por empresas como Amazon, Postmates e iFood, o que está no radar?
Sabemos que novos modais para o last mile terão um papel significante em viabilizar e conciliar a limitação do espaço com ampliação de volume transportado, com a vantagem de aprimorar esses serviços com inteligência, reduzindo ainda mais o tempo de entrega e custos, aumentando a integração, segurança e sustentabilidade.
Vamos a eles.
1. Carros e caminhões autônomos
Desde que os carros autônomos começaram a ser testados – em 2009, pela Waymo – um longo caminho foi percorrido no desenvolvimento de suas tecnologias subjacentes, como internet das coisas, inteligência artificial e LiDAR.
Mais maduro, o mercado de carros autônomos crescerá a partir de 2020 significativamente até 2030, segundo a Statista: um a cada 10 veículos do mundo será autônomo. De acordo com a própria consultoria, no entanto, esse crescimento dependerá da velocidade da aceitação dos consumidores e da habilidade dos desenvolvedores de escalar a produção.
Nesses dois pontos, ainda precisamos evoluir muito. Dados pré-pandemia mostram que 70% das pessoas não confiavam na tecnologia dos veículos autônomos. Isso não impediu, porém, que as pesquisas continuassem.
No mundo pós-pandemia, muitos analistas creem que as novas demandas vão melhorar a atitude das pessoas em relação a veículos autônomos.
Apesar de promissores em termos de segurança, carros autônomos não representarão grande impacto em termos de diminuição de congestionamento e emissões. A não ser que sejam elétricos e façam entregas fora do horário comercial - afinal, nada os impede disso.
2. Drones de entrega
Foi no final de 2016 que a Amazon enviou, pela primeira vez, uma compra por drone para um consumidor, como parte do programa Prime Air.
Em 2020, no Brasil, o iFood recebeu autorização da Anac – Agência Nacional de Aviação Civil para fazer voos experimentais com drones, parte de uma estratégia multimodal da empresa para reduzir o tempo de entregas. Já não era sem tempo.
Os drones e outras tecnologias de transporte aéreo têm grande potencial de evitar congestionamento e emissões, além de manterem a velocidade das entregas e o contactless, ainda que apenas de pequenos volumes.
Com maior aceitação do que os carros autônomos, por exemplo, seu potencial já está sendo explorado e logo deveremos vê-los por aí.
3. Robôs de entrega
E se pequenos robôs de calçada, suficientemente inteligentes para desviar de obstáculos, não esbarrar em pessoas e atravessar a rua sozinhos, fizessem entregas em um pequenos perímetros?
Tudo isso, com o monitoramento em tempo real por smartphone e, ainda, com a garantia e segurança de que apenas o destinatário poderia abrir o bagageiro?
Parece que essa ideia está se tornando realidade. No vídeo abaixo, temos o Starship, o primeiro robô autônomo de entrega.
A vantagem aqui é a de não gerar trânsito nem poluição, evitar acidentes, e aproveitar a própria infraestrutura já existente na cidade (desde que seja boa) para se movimentar.
4. Armário de entrega de encomendas
A segurança do bem e o re-delivery, no caso, por exemplo, de entregas mal-sucedidas – a quem nunca ocorreu não estar em casa uma, duas ou até três vezes justamente no momento da entrega de uma encomenda? – adiciona custos às transportadoras, seja pelo retrabalho, seja pelo tempo perdido.
Mais que isso, gera frustração para o destinatário, que terá a espera pela entrega prolongada aliada ao temor de que ela não ocorra da próxima vez.
Evidentemente, não se pode simplesmente deixar a encomenda na porta do destinatário. Então, o armário de entrega de encomendas, como um local de entrega alternativo, já é uma solução usada por empresas como Amazon.
A pedido do consumidor, a entrega é agendada para um desses locais, perto da casa ou do local de trabalho do destinatário, para coleta rápida e segura na data de entrega.
Nessa mesma linha, estão as caixas de correiro inteligentes. Equipadas com sensores IoT, internet e um app, o destinatário faz o acompanhamento de toda a entrega e é alertado quando a encomenda chega.
Ambas as soluções reduzem consideravelmente problemas de última milha, além de poderem evitar trânsito em horários comerciais e diminuir emissões.
Transporte last mile: equilibrando velocidade e custo a emissões e congestionamentos com tecnologia
Em meio às mudanças geradas pelas forças atuais, além de desafios, uma série de oportunidades em modais está surgindo na área de logística de last mile.
Mas a forma que o desenvolvimento das tecnologias de transporte tomará não é linear ainda. Então, para tomar a decisão certa, é crucial primeiro entender os consumidores antes de embarcar em tendências.
Também será crucial, do ponto de vista estratégico, inserir possibilidades de novos modais dentro de uma estratégia mais ampla de logística digital, que envolve uma aplicação extensa de recursos tecnológicos na estratégia logística, sobretudo com advanced analytics e data science.
Leia também: Sua organização está preparada para o data science?
Por fim, uma coisa é certa: do ponto de vista dos líderes de logística, cabe adotar um mindset que aceita a mudança perpétua como valor, pautada na inovação e integração logística.
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