Entenda a Lean Inception, método criado por Paulo Caroli para obtenção de MVPs
Para criar um produto digital novo ou reformular um produto já existente não basta simplesmente ter uma ideia e começar a escrever códigos. É preciso um projeto de desenvolvimento de software. No entanto, como obter um projeto consistente no mínimo tempo possível? Paulo Caroli, consultor da ThoughtWorks, respondeu a essa pergunta com a Lean Inception.
Caroli formaliza o conceito e o programa de uma Lean Inception, pela primeira vez, no livro Lean Inception: como alinhar pessoas e construir o produto certo, que foi seguido por títulos como Direto ao Ponto: criando produtos de forma enxuta e por vários textos em seu site.
Neste post, vamos compreender a origem desse modelo de planejamento de produtos, o que é uma Lean Inception, como ela funciona na prática e, finalmente, a que tipo de equipes ela se destina.
A origem da Lean Inception
De acordo com Paulo Caroli, depois de anos trabalhando com o desenvolvimento de projetos, ele notou certa similaridade entre as atividades que precedem seu desenvolvimento propriamente dito. Uma delas era a necessidade de um alinhamento prévio entre a área de negócio e a área técnica.
Essas necessidades, em seus projetos, até então eram atendidas pela Inception. Essa é a primeira fase do RUP – Racional Unified Process, metodologia ágil para engenharia de softwares criada em 2003 e composta das seguintes fases: Inception, Elaboration, Construction e Transiction.
Após conduzir muitas Inceptions, Caroli questionou a longa duração do processo, em torno de duas semanas a um mês, e que funcionalidades criadas não eram utilizadas, gerando desperdício de tempo, esforços e recursos.
Isso o levou a enxugar a Inception. Foi no livro A startup enxuta, de Eric Ries, e no conceito de MVP – Mininum Viable Product, que ele encontraria a sua solução tanto para reduzi-la quanto para otimizá-la.
O que é uma Lean Inception
Uma Lean Inception é um workshop coletivo que visa alinhar o entendimento das áreas de negócio e técnicas sobre um produto em seus aspectos mais fundamentais.
Dessa definição já saem diferenças entre a Inception e a Lean Inception. Segundo Caroli, na Inception, o objetivo é planejar um release bem detalhado do produto, já o objetivo da Lean Inception é planejar o MVP.
Com uma navalha de Ockham, Caroli propôs a remoção da Inception de tudo que não fosse produto. Assim, elementos como arquitetura, projeto, histórias de usuários seriam deixados de lado – pelo menos nesse momento.
Para a Lean Inception, ficaram as definições das funcionalidades que tornam um produto viável, ou seja, o escopo de produto capaz de gerar negócios e valor para os usuários, validando ou invalidando as hipóteses assumidas. Assim, seria reduzida a perda de tempo, de recursos e de energia com o desenvolvimento de apetrechos secundários.
Daí a conexão da Inception com o Lean. O MVP é a versão mais básica pela qual um produto pode ser utilizado pelos seus usuários. Ele tem as features fundamentais, o core do produto, bem menos desenvolvido do que sua versão completa.
Esta será construída incrementalmente, pelo mesmo processo de validação do primeiro MVP, em um movimento de entregas rápidas e contínuas ao longo do tempo.
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Quando fazer uma Lean Inception?
A Lean Inception acontece bem no começo de projetos, quando tanto as áreas de negócio quanto as áreas técnicas ainda têm apenas um esboço de produto em mente: quem serão seus usuários e sua jornada até o produto, quais serão as funcionalidades do produto ou o escopo e agenda das entregas.
Ela se aplica a projetos grandes e pequenos, em grandes ou pequenas empresas e startups, sendo uma maneira de alinhar todas as equipes envolvidas em torno de uma mesma visão de negócio e de um entregável.
Esse é um bom momento para entender quem participa do processo.
Quem participa de uma Lean Inception?
A Lean Inception muitas vezes é chama por Caroli de workshop colaborativo, explicitando seu aspecto coletivo.
Ela pode envolver stakeholders, além dos membros ativos do time de produto: desenvolvedores, product owners, scrum masters, gerentes de projetos e UX designers. É bom que sejam pessoas com formações bem diferentes.
Além disso, a Lean Inception conta com um facilitador, um agile coach experiente no processo e neutro, que vai explicar e conduzir o processo e todas as atividades com os participantes.
Embora o próprio Caroli não especifique um número exato de participantes de uma Lean Inception, ele gira em torno de 10 a 30 pessoas.
Confira: Guia Scrum: do conceito à prática
Lean Inception passo a passo: como se chega a um MVP em até 5 dias
Sabemos que uma Lean Inception dura uma semana e que seu resultado é um MVP. Parece algo pretensioso. Portanto, o que acontece ao longo desse período?
A Lean Inception envolve uma sequência de atividades standard, uma receita, segundo Caroli.
Tal como a design sprint, requer uma preparação prévia, com reserva de agenda de todos os participantes, sala (war room) bem confortável e exclusiva, quadros, post-its, canetas, folhas A4 e lanches.
Vamos ao resumo do roteiro de uma Lean Inception presencial, tal como concebida por Caroli. Mas primeiro confira o vídeo:
Dia 1: Apresentações, kick-off, visão do produto e objetivos
O dia começa com uma rápida apresentação dos membros do workshop, após a qual se faz uma orientação sobre as necessidades e objetivos da Lean Inception e a construção da visão de produto.
Ao final, o grupo obterá uma frase mais ou menos com essa estrutura, de acordo com Caroli:
Neste dia, essa visão do produto é aprofundada na ação O produto é, não é, faz, não faz.
Depois disso, o grupo está bem aquecido para uma definição final dos objetivos do produto.
Dia 2: Personas e descoberta de features
Todo produto digital é feito para pessoas. E a melhor maneira de representá-las é por meio de personas. Portanto, o segundo dia é dedicado à construção detalhada desse personagem, com nome, perfil, comportamento e necessidades.
Para se aprofundar em suas características, Caroli sugere a produção de um Mapa da Empatia.
Após, chega-se ao brainstorm de funcionalidades. Caroli sugere que o ponto de partida seja a pergunta: o que o produto deve ter para atender este objeto e para aprender a necessidade da persona?
Basicamente, a dinâmica envolve um Canvas de Objetivos por Persona, que é preenchido com as funcionalidades que vão atendê-los.
Dia 3: Nivelamento de features
No dia anterior, as features foram listadas, mas não discutidas. Então, este dia, dedicado ao nivelamento de features, é fundamental porque é o que produzirá aquele alinhamento entre as áreas técnicas e de negócios de que falávamos acima.
O aprofundamento em cada funcionalidade listada se dará nos seguintes termos:
1. valor, esforço e user experience
2. Grau de incerteza e técnica e concordância de negócio
O resultado desse nivelamento de features ajuda a priorizar, estimar e planejar o projeto.
Dia 4: Jornadas do usuário e sequenciador de features
No quarto dia, o primeiro objetivo é descrever as jornadas do usuário, ou seja, cada passo que o usuário dará para alcançar seu objetivo ou atender a sua necessidade com o produto. Essa jornada vai esclarecer o que acontece antes, durante e depois da interação do usuário com o produto.
Essas jornadas, além de ajudarem a determinar se há features faltando ou sobrando, serão úteis para a organização e visualização delas no sequenciador de features. Nesta etapa, o grupo vai decidir o que será feito, seguindo várias regras.
O resultado desse trabalho serão os MVPs, formando várias ondas de desenvolvimento.
Dia 5: Canvas MVP e showcase
Coroando os esforços dos cinco dias anteriores, o último dia será dedicado ao preenchido o MVP Canvas, o instrumento que validará as ideias sobre o produto.
Ele contém personas, jornadas, visão do produto, features, custos e agenda, resultados esperados e métricas para validação das hipóteses de negócio.
Por fim, será feito o showcase: uma revisão geral de todo o MVP Canvas, que validará os resultados obtidos nos dias anteriores.
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Lean Inception: a visão mais completa do seu produto em cinco dias
Vimos, de maneira resumida, que o resultado de uma Lean Inception é um MVP, aquela visão do produto mais simples possível acabado, com a qual todos concordam: áreas técnicas e áreas de negócio.
Quando bem conduzido, o método de Paulo Caroli tem se mostrado como uma maneira efetiva de gerar aprendizado, orientando e acelerando o começo dos trabalhos de uma equipe, e, ao mesmo tempo, de minimizar riscos, esforços e perda de tempo.
Aqui na Supero, a Lean Inception tem sido nossa recomendação para organizações que chegam a nós com projetos promissores, mas ainda incipientes, sem uma visão clara sobre persona, jornada, features e escopo. Inclusive, já conseguimos resultados promissores com os clientes nas quais aplicamos.
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